Lojas de brinquedos, padarias, motéis, fintechs: veja onde PCC lavava dinheiro
PCC usou mercado financeiro para lavar bilhões de reais; entenda esquema Anualmente, o Primeiro Comando da Capital (PCC) fatura bilhões de reais com o tráfic...

PCC usou mercado financeiro para lavar bilhões de reais; entenda esquema Anualmente, o Primeiro Comando da Capital (PCC) fatura bilhões de reais com o tráfico internacional de drogas e com negócios legais, como a exploração do tabaco, ouro, combustíveis e bebidas. Segundo as investigações, para lavar esse dinheiro, a facção criminosa recorre a diversas estratégias: lojas de brinquedo, padarias, motéis e fintechs. Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo g1, apontou que o crime organizado faturou ao menos R$ 146,8 bilhões somente em 2022 com produtos do comércio legal. Nesta quarta-feira (22), uma operação do Ministério Público, da Polícia Civil e da Fazenda estadual revelou que lojas de brinquedos infantis também são usadas por integrantes do PCC para lavar dinheiro. ✅ Clique aqui para se inscrever no canal do g1 SP no WhatsApp As lojas estão localizadas em dois shoppings na capital paulista (Center Norte e Mooca), um em Guarulhos (Shopping Internacional) e outro em Santo André, no ABC paulista. Os alvos da operação têm ligação com Claudio Marcos de Almeida, conhecido no PCC como Django, apontado como traficante de grandes quantidades de droga e fornecedor de armamento pesado para a facção. Segundo os promotores, a viúva de Django, Natalia Stefani Vitoria, e a irmã dela, Priscila Carolina Vitoria Rodriguez Acuna, são investigadas por realizarem vultosos investimentos na criação de quatro lojas de uma rede de franquias de brinquedos infantis, apesar de não possuírem ocupação lícita declarada. A defesa delas não foi localizada pela reportagem. LEIA TAMBÉM: Cana, maquininha, fintech: veja caminho usado pelo PCC para lavar dinheiro no esquema bilionário, segundo investigação 'Beto Louco' e 'Primo': quem comandava esquema bilionário do PCC no setor de combustíveis Copape e Aster Petróleo: conheça as principais empresas usadas pelo PCC no setor de combustíveis Viaturas da PF e da Receita em frente a prédio na Faria Lima durante megaoperação que investiga fraude do PCC em postos de combustíveis Amanda Perobelli/Reuters Operação Carbono Oculto Maior operação contra o crime organizado no Brasil, a Carbono Oculto revelou, em agosto, um esquema bilionário comandado pelo PCC no setor de combustíveis — que passava por toda a cadeia produtiva, começando no campo, passando por postos e indo até o coração do mercado financeiro em São Paulo. Segundo as investigações, o PCC criou uma estrutura empresarial e financeira paralela, controlando pelo menos 40 fundos de investimento com patrimônio superior a R$ 30 bilhões, financiando usinas produtoras de álcool, terminais portuários, e uma frota de 1.600 caminhões para transporte de combustíveis. Postos de combustíveis Uma das formas de lavar dinheiro eram os postos de combustíveis e as lojas de conveniência. Muitos tinham o papel de receber dinheiro em espécie ou via maquininhas de cartão e transferir recursos do crime para a organização criminosa por meio de suas contas bancárias. Nos últimos quatro anos, esses postos movimentaram R$ 52 bilhões. Eles vendiam combustíveis adulterados e colocavam menos produto do que o volume indicado no painel. Também recebiam dinheiro em espécie ou maquininha para mandar para o PCC por meio de suas contas bancárias. MAPA: onde ficam os postos de combustível que são de investigados na megaoperação contra o PCC A investigação também apontou que cerca de 140 postos, sem qualquer movimentação no período, foram destinatários de mais de R$ 2 bilhões em notas fiscais de combustíveis. A suspeita é que essas compras simuladas serviram para ocultar o trânsito de valores ilícitos depositados nas distribuidoras vinculadas à organização criminosa. Polícia descobre esquema de fraude de impostos na produção de combustíveis em SP Fintechs A Operação Carbono Oculto também demonstrou que o crime organizado se infiltrou até mesmo na Avenida Faria Lima, onde está concentrado o mercado financeiro da capital. O esquema bilionário utilizava ao menos 40 fundos de investimento e diversas fintechs — empresas de serviços financeiros digitais — para lavar dinheiro, mascarar transações e ocultar patrimônio do grupo que superava a cifra dos R$ 30 bilhões. O objetivo era dificultar o rastreamento dos valores ligados ao PCC. As fintechs exploravam brechas na regulamentação, o que permitia que o dinheiro ilícito do esquema nos postos de combustíveis fosse integrado ao sistema financeiro. A Receita Federal constatou que uma dessas fintechs atuava como um “banco paralelo” da facção, movimentando mais de R$ 46 bilhões entre 2020 e 2024. Os mesmos operadores também controlavam fintechs menores, formando uma segunda camada de ocultação. Entre as principais empresas investigadas estão: Grupo Aster/Copape: O grupo controla usinas, formuladoras, distribuidoras e uma rede de postos de combustíveis utilizados pela organização criminosa; BK Bank: Fintech brasileira que oferece soluções digitais para pessoas físicas e jurídicas. A instituição foi usada para movimentar recursos por meio de contas-bolsão, de difícil rastreamento; Reag: Primeira empresa de gestão de patrimônio (wealth management) listada na B3, atuando em áreas como crédito, mercado imobiliário, patrimônio, disputas legais e situações especiais. Os fundos serviam para adquirir empresas e usinas, além de blindar o patrimônio dos envolvidos. Padarias A organização criminosa ainda utilizava uma rede com ao menos 9 padarias e empresas associadas em São Paulo para lavar dinheiro e ocultar patrimônio. Segundo o Ministério Público, a empresa Dubai Administração de Bens Ltda. foi identificada como a administradora da rede de padarias do grupo criminoso, chegando a figurar em um ranking das maiores redes de São Paulo. Veja a lista de padarias citadas na investigação: NOVA SALAMANCA PAES E DOCES LTDA; NOVA IRACEMA PAES E DOCES LTDA; BELA SUIL PADARIA E CONFEITARIA LTDA; NOVA COPACABANA PADARIA E CONFEITARIA LTDA; BELLA PORTUGAL PADARIA E CONFEITARIA LTDA. SALAMANCA PAES E DOCES LTDA; IRACEMA DA ANGELICA PAES E DOCES LTDA; CONFEITARIA E ROTISSERIA IRACEMA LTDA; IRACEMA SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS LTDA. Motéis Motéis são usados em esquema de lavagem de dinheiro do PCC. Reprodução A Receita Federal e o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) descobriram uma rede com cerca de 60 motéis em nomes de laranjas usada pelo PCC para lavar dinheiro do crime organizado. Os motéis movimentaram mais de R$ 450 milhões entre 2020 e 2024. As investigações fazem parte da Operação Spare, realizada nesta quinta-feira (25) e que mira o esquema ilegal da facção nos setores de combustíveis e de jogos de azar. Segundo a Receita Federal, esses estabelecimentos contribuíram para o aumento patrimonial dos sócios parceiros do crime organizado, com a distribuição de R$ 45 milhões em lucros e dividendos. Um dos motéis chegou a distribuir 64% da receita bruta declarada. Restaurantes localizados nos motéis, com CNPJs próprios, também integravam o esquema — um deles distribuiu R$ 1,7 milhão em lucros após registrar receita de R$ 6,8 milhões entre 2022 e 2023. Confira a lista de estabelecimentos que já foram identificados: Maramores Empreendimentos Hoteleiros Motel Uma Noite em Paris Motel Chamour Motel Casual Sunny Empreendimentos Hoteleiros Mille Motel Marine Empreendimentos Hoteleiros Ceesar Park Empreedimentos Hoteleiros Motel Vison Motéis são usados em esquema de lavagem de dinheiro do PCC Montagem/g1/Google Street View