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Do sol da meia-noite ao calor de 52°C: em oito anos, ciclista brasileiro percorre 69 países pedalando

Ciclista do interior de SP percorre 69 países pedalando Aurélio Magalhães/Arquivo pessoal Motivado pelo desejo de sair da vida corrida que vivia em São Pau...

Do sol da meia-noite ao calor de 52°C: em oito anos, ciclista brasileiro percorre 69 países pedalando
Do sol da meia-noite ao calor de 52°C: em oito anos, ciclista brasileiro percorre 69 países pedalando (Foto: Reprodução)

Ciclista do interior de SP percorre 69 países pedalando Aurélio Magalhães/Arquivo pessoal Motivado pelo desejo de sair da vida corrida que vivia em São Paulo e com o sonho de conhecer culturas e países por meio dos seus hobbies favoritos, Aurélio Magalhães embarcou em um dos projetos mais ousados de sua vida em 2013: pedalar o mundo. De Hong Kong ao Brasil e, mais especificamente, com a linha de chegada em Marília (SP), o ciclista de 54 anos contou ao g1 como foi finalizar uma jornada de oito anos que contabilizou 69 países, 77 mil quilômetros e mais de 800 pontos turísticos em duas rodas. 📲 Participe do canal do g1 Bauru e Marília no WhatsApp O início Educador físico especializado em treinamento desportivo e personalizado, Aurélio conta que sua rotina antes de embarcar no projeto foi o combustível central para colocar a ideia em execução. "Eu tinha uma vida muito corrida em São Paulo. Como personal trainer, a gente trabalha antes de todo mundo ou depois que todo mundo, então a jornada fica muito longa. Eu vendia qualidade de vida para os meus alunos, mas estava perdendo a minha, e isso me motivou a buscar esse sonho", relata. Antes de se aventurar pelo mundo, Aurélio fez um teste prévio na Noruega, com o objetivo de pedalar por toda a costa do país, em 2011. Veja uma reportagem da época abaixo: Ciclista de Marília conta sobre viagem pela costa da Noruega de bike Com o desejo de conhecer melhor um local que o encantou previamente pelas paisagens exuberantes e suas casas coloridas, o mariliense percorreu 120 cidades de bicicleta, equipado apenas com itens básicos de sobrevivência, como barraca, saco de dormir, fogareiro, GPS, máquina fotográfica e as roupas necessárias para enfrentar chuva e frio. "Foi o país mais bonito que viajei até hoje, em termos de belezas naturais", relembra Aurélio em entrevista ao g1. No entanto, a viagem também teve seus desafios, pois foi um percurso com muitas subidas, temperaturas extremamente baixas e até mesmo oito dias sem tomar banho. Segundo o ciclista, foram 96 dias, 4,5 mil quilômetros pedalados, 5,1 mil quilômetros percorridos contando com as travessias de barco, mais de 50 receitas gastronômicas e 7 mil fotos, que renderam um livro com os detalhes gastronômicos e turísticos de suas vivências no país. "Eu me dei bem lá mesmo com o sol da meia-noite, 2 mil quilômetros acima do Círculo Polar Ártico, e o frio. Consegui me adaptar muito bem", lembra. Ciclista de Marília (SP) durante sua viagem à Noruega, em 2011 Aurélio Magalhães/Arquivo pessoal A jornada A escolha de Aurélio de usar a bicicleta como principal meio de transporte para o seu percurso foi, na mesma medida, estratégica e pessoal. "Na bicicleta consegui colocar todos os meus hobbies: atividade física, contato com a natureza, novas culturas, preservação do meio ambiente com transporte não poluente, fotografia, gastronomia, pescaria. Esse projeto deu certo porque tudo que eu gosto está dentro dele", conta. Após a Noruega, Aurélio afinou alguns detalhes a respeito do cronograma e, com a mesma vontade de conhecer o mundo e viver experiências por meio do ciclismo, em novembro de 2013, iniciou o projeto "Da China para Casa By Bike". Ciclista de Marília (SP) percorreu 69 países em oito anos Aurélio Magalhães/Arquivo pessoal Desta vez, o mariliense se permitiu viver mais as experiências locais e aproveitar o que cada país e cultura tinham a oferecer. "Para um cicloturista, os critérios mudam: hospitalidade das pessoas, distâncias entre pontos turísticos, custo-benefício entre beleza e esforço, e, claro, a cultura local." "Na volta ao mundo, a grande diferença foi não ter data de retorno. Isso me deu autonomia e liberdade. Se alguém me convidasse para pescar, eu ficava um dia a mais, não desperdicei uma oportunidade de fazer amigos ou conhecer lugares. Eu só respeitava o tempo de permanência permitido em cada país: seis meses nos Estados Unidos e no México, um mês ou 50 dias em outros lugares", relata. Altos e baixos Aurélio relata que a melhor parte de tudo foi um combo de fatores, como a oportunidade de experimentar a culinária local, ter trocas culturais, fazer amigos de todas as partes do mundo e conseguir ver de perto pontos turísticos de tirar o fôlego. "A felicidade vinha quando eu chegava a um lugar pedalando com minhas próprias forças. Isso dá orgulho e motivação. Mas, com o tempo, percebi que as pessoas são ainda mais importantes do que os lugares. Conhecer pessoas no caminho e fazer amigos foi o que realmente fez diferença." No entanto, apesar do passaporte cheio também ser sinônimo de alegria, os momentos difíceis também fazem parte da jornada, e Aurélio conta que um dos mais marcantes foi presenciar o terremoto no Nepal, em 2014. Veja uma reportagem da época abaixo: Ciclista de Marília estava no Nepal durante terremoto em 2014 "Foi um momento difícil. O Nepal mudou a minha vida. Eu tinha ido para lá buscando um sonho de conhecer o Everest, e, quando eu voltei de lá, fiquei totalmente motivado a buscar essa qualidade de vida, que eu mencionei antes, após a tragédia. Foi o momento mais triste da viagem, com certeza", relembra Aurélio. Postagem de Aurélio no Facebook na época Aurélio Magalhães/Arquivo pessoal Além disso, o ciclista relembra que passou por diversas situações extremas durante o percurso, como a travessia dos desertos Gobi e Saara, a chegada a 4.700 metros de altitude, noites em barraca com -18°C e pedaladas em locais que chegaram a 52°C, como no Mar Morto. No entanto, mesmo com tantas desafios, ele conta que o que mais o afetou durante o percurso todo foi a saudade de sua família. "Para você conquistar alguma coisa, sempre você tem que abrir mão de outras, e talvez o distanciamento da minha filha tenha sido a parte mais difícil da viagem." Aurélio registrou momentos da viagem de bike por 69 países Aurélio Magalhães/Arquivo pessoal O fim Durante os oito anos do projeto, que foi interrompido durante a pandemia e retomado após Aurélio ter se vacinado, em 2022, na Colômbia, exato local onde ele havia parado quando a quarentena começou, o ciclista registrou sua rotina, aventuras e dificuldades em 448 episódios em seu canal do YouTube. A volta para casa, em 30 de agosto de 2025, na cidade de Marília, marcou a finalização do projeto, totalizando 2.942 dias na estrada. Para Aurélio, ter concluído a viagem foi um grande privilégio. Aurélio, após oito anos de projeto, no seu destino final em Marília Aurélio Magalhães/Arquivo pessoal "Quantas vidas a gente não precisaria viver, como uma pessoa comum, para conhecer 800 lugares turísticos do mundo? Muita gratidão por chegar aqui vivo, de ter visto tudo isso e, claro, um pouquinho de orgulho, porque sei que esse feito não é para qualquer um. Sensação de missão cumprida, você se propor a fazer uma coisa que é realmente difícil de colocar em prática. É realmente sensacional." Os planos para agora, depois de viver uma experiência incrível e transformadora como essa, é transformar tudo que ele viveu em palestras, relacionando as características da viagem com as questões da vida cotidiana. "Quero inspirar as pessoas a descobrirem o melhor dentro delas, esse é o novo desafio", finaliza. Veja mais notícias da região no g1 Bauru e Marília VÍDEOS: assista às reportagens da região